Aos vinte anos, decidi parar de estudar. E pra limpar a barra com a minha mãe, escolhi um curso rápido pra fazer, antes que o ano acabasse: Taquigrafia.

Isso mesmo. O curso já estava bem fora de moda, mas pra dizer que o ano não tinha passado em branco, lá fui eu fazer minha matrícula no Senac.

Taquigrafia é uma arte. A arte de fazer anotações rápidas - através de rabiscos no papel. Habilidade muito útil pra fazer anotações, antes da invenção do celular.

De segunda a sexta, nós treinávamos novos sinais. O Professor João nos incentivava, contando como os taquígrafos trabalhavam. E nos dizia sobre como a profissão era intensa.

Um dia, ele faltou. Ficamos sabendo que o pai dele havia falecido.

No dia seguinte, ele chegou pensativo - e nos deu uma aula que eu nunca me esqueci. O carinho dele conosco e a dedicação dele em ensinar eram incomparáveis.

Calça jeans e camisa branca com as mangas dobradas, tênis branco. Esse era o uniforme dele. Cabelos grisalhos e bem alinhados, um óculos combinando com o formato do rosto. Ali em pé, com toda a atenção voltada para um grupo de jovens, eu via a dignidade em pessoa.

Naquele momento percebi quanta diferença um professor pode fazer na vida de alguém...

O tempo passou, tive outras experiências inspiradoras e - quando decidi ser professor - a figura dele me veio à mente.

Lá se vão 30 anos, desde aquele curso de taquigrafia. No decorrer desse tempo, conheci muitos profissionais exemplares em suas áreas de atuação.

Um deles, um jovem também chamado João, me enviou essa mensagem pelo WhatsApp:

Esse rapaz está na casa dos vinte anos. Seus pais faleceram, e ele acaba de se tornar pai. No meio do furacão da vida, ele ainda encontra tempo para me agradecer.

Vejo aí um ciclo. Eu também já escrevi mensagens assim, a diversos professores e professoras que marcaram minha vida.

Por mais professores que nos inspirem a dar o melhor de nós mesmos em nossa vida e em nossas profissões.

Muito obrigado a todos os que escolheram essa profissão, assim como eu.

Por menor que seja a influência de cada um de nós, acreditem: ela vale muito para alguém.

When I was twenty years old, I decided to quit studying. And to clear the air with my mother, I chose a quick course to take - before the end was over: Shorthand.

That's right. The course was already quite out of fashion, but to say that the year had not gone by in vain, I went to enroll at Senac.

Shorthand is an art. The art of taking quick notes - through scribbles on paper. Very useful skill for taking notes, before the invention of cell phones.

From Monday to Friday, we trained new signs. Professor João encouraged us, telling us how stenographers worked. And he told us about how intense the profession was.

One day, he was absent. We learned that his father had passed away.

The next day, he arrived thoughtfully - and gave us a lesson that I have never forgotten. His affection for us and his dedication to teaching were incomparable.

Jeans and a white shirt with rolled-up sleeves, white sneakers. That was his uniform. Gray, well-aligned hair, glasses matching the shape of his face. Standing there, with all my attention focused on a group of young people, I saw dignity in person.

At that moment I realized how much of a difference a teacher can make in someone's life....

Time passed, I had other inspiring experiences and - when I decided to become a teacher - his figure came to mind.

It's been 30 years since that shorthand course. During this time, I met many exemplary professionals in their fields.

One of them, a young man also called João, sent me this message via WhatsApp:

This guy is in his twenties. His parents have passed away, and he has just become a father. In the midst of the hurricane of life, he still finds time to thank me.

I see a cycle there. I have also written messages like this, to several teachers who have impacted my life.

No matter how many teachers inspire us to give the best of ourselves in our lives and in our professions.

Thank you very much to everyone who chose this profession, just like me.

No matter how small the influence each of us has, believe me: it is worth a lot to someone.