uma lição sobre o perdão
Histórias vividas #3

HISTORIAS-VIVIDAS-03

Hoje, quero contar sobre meu amigo Geraldo de Oliveira. Nos conhecemos quando eu era rapaz - e ele já era homem feito.

Um dia, ele me viu jogando bola. Correndo feito louco, num acampamento de jovens. Depois do jogo, ele veio conversar comigo.

- Já pensou se a gente se esforçasse tanto na vida pra fazer a vontade do Senhor, do mesmo jeito que a gente se esforça pra correr atrás de uma bola?

Caraca! Por mais que eu tentasse, eu NUNCA iria conseguir me esforçar daquele jeito. Porque quando eu jogo bola, não penso em mais nada.

Pois meu amigo Geraldo me acompanhou por longos anos. Ele trabalhou muito lá em casa, fazendo trabalhos de pedreiro e carpinteiro. A maioria das vezes, ele trabalhou de graça mesmo. Tínhamos quatro filhos pequenos, e estávamos buscando melhorar as condições da nossa casa. E ele, com filhas adolescentes, me aconselhava:

- Aproveita, Charlles. Porque daqui a pouco suas crianças vão crescer e, se você cochilar, o cachimbo cai. As minhas cresceram e eu nem aproveitei tudo o que podia. Vivia trabalhando de dia e de noite. Passei anos construindo minha casa de dois andares, e hoje só uso o primeiro andar. E as meninas, já estão moças.

Enquanto ele me dizia isso, sua voz foi ficando embargada.

Esse homem serviu a tanta gente, e por tanto tempo, que se eu fosse escrever sobre isso, dava um livro inteiro. No dia em que eu iria ser chamado para servir como bispo, cheguei na igreja e quando bati os olhos nele, senti: esse vai ser seu conselheiro.

E não é que ele foi o meu braço direito mesmo? Por quatro anos, ele me aconselhou, me animou e me puxou as orelhas. E também, me perdoou diversas vezes.

Uma delas aconteceu quando tivemos um grande vendaval na cidade - e fomos entregar telhas para os desabrigados.

O vendaval aconteceu na segunda. Fizemos uma reunião na terça, e na quarta estávamos em cima do caminhão, indo de casa em casa entregar as telhas novas.

Cada membro da igreja foi convidado a mencionar o nome dos vizinhos afetados, e a quantidade de telhas. Quando estávamos entregando na vizinhança dele, chegou uma mulher que não estava na lista e perguntou:

- Eu posso pegar telha pra minha casa também?

Como o nome dela não estava na lista, e a gente tinha muitas casas pra visitar ainda, sapequei de volta:

- O nome da senhora não está na lista. Fala aí com o Irmão Geraldo, que ele é o seu vizinho e não se lembrou de colocar.

Falei isso no ímpeto, sem pensar. E pulei de novo pra cima do caminhão.

À noite, quando nos reunimos para conversar sobre a entrega das telhas, ele comentou:

- Hoje eu levei uma pancada muito forte na canela, sabe?

- Sério? Foi na hora de entregar as telhas?

- Foi sim.

- Alguma telha acertou sua canela? Deixa eu ver…

- Não foi telha não. Foi o que você disse pra minha vizinha.

Na hora, lembrei do ocorrido. Passou um flash na minha cabeça.

- Você me colocou contra a minha vizinha. Ela ficou com muita raiva de mim, e falou um monte - disse ele.

Enquanto eu pensava na cena, de cabeça baixa, ele concluiu:

- Mas eu te perdoo. Você não fez por mal.

Olhei pra ele, sem dizer uma palavra. Os olhos dele estavam marejados.

- Puxa, me desculpa. Eu falei sem pensar mesmo.

Demos um abraço, e continuamos a vida em frente. Lições como essa, na prática mesmo, ele me ensinou várias.

Ao lembrar desse grande amigo, sinto vontade de ser uma pessoa melhor. E de passar esse bonito legado adiante.

Today, I want to tell you about my friend Geraldo de Oliveira. We met when I was a boy - and he was already a grown man.

One day, he saw me playing ball. Running like crazy, in a youth camp. After the game, he came to talk to me.

- Have you ever thought if we tried so hard in life to do the Lord's will, the same way we try so hard to chase a ball?

Damn! No matter how hard I tried, I would NEVER be able to push myself like that. Because when I play ball, I don't think about anything else.

Because my friend Geraldo accompanied me for many years. He worked a lot at home, doing bricklaying and carpentry work. Most of the time, he worked for free. We had four young children, and we were looking to improve the conditions in our home. And he, with teenage daughters, advised me:

- Enjoy, Charles. Because soon your children will grow up and if you doze off, the pipe will fall. Mine grew and I didn't even take advantage of everything I could. He lived working day and night. I spent years building my two-story house, and today I only use the first floor. And the girls are already young.

As he told me this, his voice became choked.

This man served so many people, and for so long, that if I were to write about it, it would be a whole book. On the day I was going to be called to serve as bishop, I arrived at the church and when I looked at him, I felt: this is going to be your counselor.

And wasn't he really my right-hand man? For four years, he advised me, encouraged me and pulled my ears. And also, he forgave me several times.

One of them happened when we had a big windstorm in the city - and we went to deliver tiles to the homeless.

The storm happened on Monday. We had a meeting on Tuesday, and on Wednesday we were on the truck, going from house to house delivering the new tiles.

Each church member was asked to mention the names of the affected neighbors, and the number of tiles. When we were delivering to his neighborhood, a woman who wasn't on the list arrived and asked:

- Can I get tiles for my house too?

As her name wasn't on the list, and we still had a lot of houses to visit, I asked back:

- The lady's name is not on the list. Talk to Brother Geraldo, he is your neighbor and he didn't remember to put it.

I said it out of the blue, without thinking. And I jumped back on top of the truck.

In the evening, when we met to talk about the delivery of the tiles, he commented:

- Today I got hit really hard in the shin, you know?

- Serious? Was it time to deliver the tiles?

- Yes, it was.

- Did a tile hit your shin? Let me see…

- It wasn't tile. That's what you said to my neighbor.

At the time, I remembered what happened. A flash went through my head.

- You turned me against my neighbor. She was very angry with me, and she talked a lot,” he said.

As I thought about the scene, with my head down, he concluded:

- But I forgive you. You didn't do anything wrong.

I looked at him, without saying a word. His eyes were teary.

- Wow, I'm sorry. I spoke without even thinking.

We hugged, and continued on with our lives. Lessons like this, in practice, he taught me several.

When I remember this great friend, I feel like being a better person. And to pass on this beautiful legacy.

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